Por: Jana Rosa
Toda pessoa que entra no rolê do wellness, ou falando o bom português, que começa a fazer várias coisinhas pra se sentir bem, vira automaticamente uma pessoa wellness. E uma pessoa wellness pode ser uma coisa muito maravilhosa, mas pode ser também muito cruel com seus amigos. Como essa newsletter de sexta é sobre bem-estar, e eu serei a pessoa wellness dela, achei bom já ir logo avisando.
Antes de virar cruel, pode ficar um pouco chato, porque você não para de falar do assunto, mesmo quando não é questionada sobre. Uma parte disso é normal, porque quando você começa a fazer coisas que te fazem muito bem, você quer compartilhar e quer contar pra todo mundo, afinal se você se sente bem, o mundo inteiro pode se sentir também.
O wellness é uma seita, assim como o skincare é uma seita, porque a pessoa começa a fazer rotina de skincare, coloca um rolinho de jade na cara, um sérum, e quando vê já tá perguntando pro amigo: “como assim você lava o rosto com um sabonete de corpo?”. E assim a palavra continua.
Só que a palavra do bem-estar se espalha mais rápido do que a do skincare, porque tem várias coisas que não dependem tanto de dinheiro pra você se sentir melhor. Então o exercício físico, por exemplo, você jamais vai poder responder que tá sem grana, porque a pessoa wellness vai te dizer “é só correr na rua”. Se você diz que tem dificuldade de acordar super cedo: “pare de olhar o celular à noite, olha esse app de relaxamento”. Se tá se alimentando mal porque tá trabalhando muito: “tenho um endócrino ótimo pra te indicar” — que vai acabar te colocando um chip na cintura. Estressada? “Faz uma ioga no YouTube”. Triste? “Come uma tâmara”. Sei lá, elas têm resposta pra tudo. E elas querem te lembrar disso o tempo todo.
Tudo tem uma resposta wellness na vida. De fato, tudo tem uma resposta e uma forma mais fácil — ou possível — de você se sentir bem. O difícil é conseguir fazer todas essas coisas, mas isso também é óbvio.
Mas antes que briguem comigo em defesa das pessoas wellness, lembrem-se de que eu também sou uma delas nessa coluna, então tenho propriedade pra falar que, sim, às vezes somos pessoas horríveis e tóxicas sem perceber (assim espero).
Como estou em um momento caído do meu wellness há dois meses, percebi que comecei a ficar muito chateada, primeiro comigo, porque coloquei meus padrões de bem-estar muito altos, talvez até agressivos, e não consigo mais cumprir. Preciso fazer de tudo pra ser maravilhosa e vencedora e me sentir bem o tempo todo. Só que tem semanas, ou meses, que é impossível até fazer o mínimo, seja porque tô trabalhando muito ou porque minha cabeça simplesmente está fodida. E enquanto eu vivo com essa frustração de que nem sempre consigo ter meus momentos de bem-estar, ou fazer coisas que me tragam bem-estar, percebi que muitas pessoas perto de mim, que eu amo, e que provavelmente não fazem por mal, esfregam na minha cara o tempo todo como a vida delas é perfeita e wellness.
Foi aí que pensei: cara, quantas vezes eu devo ter feito isso com alguém nesses últimos dois anos, de chegar e falar toda animada o quanto eu tô feliz e disposta e malhando e acordando cedo e equilibrada e iogue e raio de luz, achando que eu tava super inspirando e na real eu só tava sufocando uma pessoa que queria falar "mano, tô na merda, vamos ficar aqui um pouquinho achando que tá tudo errado mesmo?".
Óbvio que é muito bom ter papos inspiradores com amigos, e trocar muitas ideias de como fazer nossa vida ficar melhor. Mas, às vezes, bem-estar pra mim também é saber que todo mundo fica na pior e que não consegue acordar às 6 da manhã com a maior facilidade, que pede pizza na segunda-feira, que faltou por 25 dias seguidos na academia, que não consegue nem ler um email de recomendações pra uma endoscopia porque seu cérebro derreteu faz tempo e dormiu ontem sem lavar a cara. E se a gente ficasse todo mundo juntinho compartilhando dicas de quando falhou no wellness, será que também configuraria uma seita?
Voltamos semana que vem com mais otimismo.
(Enquanto isso, me escreve nos comentários ou no nosso grupo de Telegram pra sugerir temas e dizer o que achou.)
bjs,
Jana Rosa
@janarosa
jana@bonitadepele.com.br
Tópico que debati esses dias com uma amiga. As "chapadinhas de endorfina" viraram as Puglis da galera desconstruída (inserir rsrs aqui), numa coisa meio teoria da ferradura mas fitness. Virou uma coisa meio tóxica também e eu que achava que por ser uma moçoila 30+ passaria incólume pela raiva de ver esse tipo de coisa no feed, tive que dar unfollow em muita gente. Nunca vamos deixar de nos comparar, eu acho, as redes estimulam isso o tempo todo e tudo sempre pode ser um gatilho para outras pessoas, mas eu pessoalmente tenho preferência por ver gente "normal", que falha pra caramba também.
Jana, o que eu mais amo quando chegam os seus e-mails é que parece que eu abri um dos seus livros no meio do dia, é sempre ótimo, é sempre divertido, sempre faz sentido, eu tenho vontade de ler mais e quero mandar pra todo mundo.