Por: Jana Rosa
Desde que contei nessa newsletter sobre a minha decisão de parar de consumir álcool, me pego conversando o tempo todo sobre os efeitos dessa nova vida com amigos e conhecidos.
Os efeitos da vida com álcool a gente conhece bem, especialmente a ressaca, a dor de cabeça, a confusão mental, a culpa pelo que causou, tristeza profunda, mensagens vergonhosas, brigas desnecessárias e toda a interferência que os drinks podem acabar causando na nossa autoestima, vida pessoal e profissional. Mas e a vida sem álcool, será que realmente conhecemos?
Sempre que recuso um drink em um aniversário e me revelo pra uma pessoa nova, ela logo quer saber, muito curiosa, o motivo de eu ter parado de beber. No fundo todo mundo busca uma história trágica, e por mais que eu tenha sim me encontrado em uma situação que defini como decadente, sinto informar que a minha vida funcionava do mesmo jeito que a vida de todo mundo. Não precisei perder a chave de casa ou esperar acontecer uma merda muito grande, eu era exatamente igual a todas as pessoas de todos os aniversários que frequento, que bebem seu gim-tônica em série e ficam meio engraçadas, meio loucas, meio melancólicas, meio decadentes, com a maquiagem toda derretida e a franja colada na testa.
Algumas semanas atrás, fiquei chateada porque a revista Ela, do jornal O Globo, fez uma matéria sobre pessoas que pararam de beber e colocou frases minhas tiradas dessa newsletter, como se eu tivesse dado uma entrevista pra jornalista. Primeiro que achei antiético ela fazer isso sem citar a fonte, afinal a fonte é essa newsletter aqui, minha coluna em um veículo de beleza chamado Bonita de Pele. Vamos dar os créditos? Mas o que mais me deixou incomodada naquele momento foi também a vontade de falar sobre esse assunto com um outro olhar, que não "olha, eu estava meio decadente e parei de beber, só pessoas decadentes deveriam pensar nisso", porque todo mundo que bebe acha que a decadência é só quando dá merda, quando fodeu. E não culpo ninguém que pense isso, eu também pensava, até porque se eu nunca tivesse conhecido a minha vida sem drinks, talvez nunca imaginasse que é possível me sentir tão bem comigo, e jamais imaginaria que o buraco que eu tapava com o álcool era um problema muito além da ressaca assassina que me fazia chegar burra nas reuniões.
Na próxima terça, vai ao ar uma entrevista que fiz com a Camilla D'Anunziata pro nosso podcast, e o tema é o mesmo dessa news: a vida sem álcool. Foi muito interessante conversar com a Camilla (que decidiu parar de beber há 5 anos), porque eu também cheguei pra gravar achando que ela ia me contar uma história trágica, assim como 95% das pessoas que esperam ouvir algo triste quando me perguntam porque não quero uma cerveja. Quando você escutar o episódio do podcast, quero que pense nessa newsletter aqui, porque foi muito legal como o papo todo seguiu pro caminho do bem-estar, já que a decisão da Camilla foi holística: parar de consumir e de viver no dia a dia o que não fazia bem pra ela, seja o álcool, a alimentação, os hábitos e até padrões da vida social.
Por que nunca pensamos nisso?
Os efeitos da vida sem álcool dificilmente aparecem em apenas um mês de detox dos drinks, demora pra gente perceber o quanto mudamos. Na verdade, é bem profundo esse autoconhecimento da sobriedade, e só depois de muito tempo você consegue entender como sua vida toda mudou. Acordar de manhã se sentindo bem, sem ter deixado o corpo doente e estressado, lidar melhor com as emoções, principalmente com a tristeza e as frustrações, conseguir se conectar com as pessoas de uma maneira mais verdadeira e empática, não ter que fingir nenhuma situação ou se colocar em saias justas desnecessárias, e até saber a hora certa de ir embora. Quando você não precisa beber pra ser mais divertida, pra ter coragem ou pra se sentir segura, você realmente se conhece de um jeito muito verdadeiro que ficava escondido atrás da personagem que só vinha com os drinks.
A segurança: isso foi o que mudou completamente em mim. Posso ser do meu jeito, e tá tudo bem se alguém não gostar, não vim aqui pra agradar todo mundo, eu vim aqui pra acordar de manhã sem ressaca. E pra ter uma pele boa, muito melhor agora sem álcool. Ando viciada em me sentir bonita — se você visse a pasta de fotos do antes e depois que fiz da vida sem drinks, pararia de beber hoje.
Tem algo que eu gostaria de ter falado no podcast que você vai ouvir na terça, mas acho que não deu tempo: nunca vou me arrepender dos meus anos bebendo, porque me diverti muito e fiz muitos amigos, vivi as histórias mais loucas possíveis, nem sempre em segurança, mas felizmente estou vivona. Me arrependo de não ter aprendido mais cedo que eu podia encontrar outras maneiras de me achar uma pessoa mais completa e legal, pra gostar de mim e encontrar felicidade em outras situações, que não só doida, com a justificativa de que era aí que tudo ficava mais legal. A vida é legal demais, aliás, é muito mais legal sóbria.
beijos,
Jana Rosa
@janarosa
jana@bonitadepele.com.br
Vem continuar essa conversa no nosso grupo do Telegram.
tive uma fase de beber muito na adolescência e começo da vida adulta (15 até uns 21). um dia resolvi parar simplesmente pq não aguentava mais me sentir mal constantemente e esquecer das coisas. escapei de muitas coisas horríveis até aquele momento e decidi num certo fim de semana não dar mais chance ao azar. desde então meus encontros com a bebida são muito raros e breves, mas até hoje (5 anos depois) ainda sinto um espanto de pessoas que não me conhecem tão bem quando falo que não bebo. veja bem, não quero dizer que todo mundo deveria parar de beber agora, mas sinto que consumir álcool é tão parte da sociedade e de ser um adulto que muita gente nunca sequer pensou pq consome e se realmente gosta.
ver as pessoas falando sobre o tema e gerando reflexão sobre o porquê do álcool fazer parte da vida com tanta intensidade me deixa bem feliz. espero que os debates se espalhem nem que seja pras pessoas beberem mas com a consciência de todos os aspectos. por mais aceito que seja, bebida alcoólica tem sim seus contras e não são só gigantescas tragedias que devem ser citadas.
Gosto de cerveja, apesar de ter poucos momentos da vida que eu consumi vários finais de semana. Hoje, morando sozinho, consumo cada vez menos. Chegando aos 30 anos de idade, fico até irritado com a "obrigação social" que incentiva uma ligação entre álcool e felicidade, levando muita gente a deixar de aproveitar os momentos de sobriedade.
Ainda gosto de tomar uma cerveja? De forma que não gere cansaços no dia seguinte, sim! Porém, em momentos mais seletivos, pois me sinto melhor mentalmente e fisicamente sóbrio.