Por: Gi Ferrante
Quando eu comecei a trabalhar na Bonita de Pele, demorou pouco tempo pro pessoal descobrir que treino jiu-jitsu. Depois disso, já aconteceu das pessoas se despedirem várias vezes dizendo "boa luta, vai lá e arrasa" ou a Jana me mandar um áudio com um aviso "ouve depois da luta". Junto com isso, tenho meu fiel grupo de amigas (que começou como grupo de garotas do jiu-jitsu e agora somos amigas de verdade, de contar segredo e organizar a ida pros blocos no Carnaval), que me motiva a ir todo santo dia pro treino, até naqueles que eu tô muito cansada e parece que nada faz sentido.
O esporte aconteceu na minha vida meio por obrigação. Quando eu era criança, numa reunião da escola, a professora de educação física deu uma bronca nos pais dos alunos dizendo que era obrigatório que crianças fizessem esporte e não importava qual, eles tinham que fazer algum, o que, eu sei, é um grande privilégio. Essa era a regra em casa e por aí eu passei pela natação, pelo vôlei e pelo handball, que foi o principal. Sou ariana e, na época de adolescência, era uma ótima válvula de escape pra aquela fúria interior. No handball, a porradaria é mais ou menos legalizada.
Anos depois, naquela vida faculdade-estágio-muita curtição, parei com os esportes e fui viver minha vida. Até que um dia me vi chorando pro médico por conta da ansiedade e algumas crises de pânico. Ele, que me acompanha há muitos anos, me propôs um combinado: voltar a fazer um esporte e, se não melhorasse, aí a gente pensaria em remédio. Eu topei.
Alguns dias depois, tava chegando em casa e vi uma academia de luta na esquina. Pensei comigo: é isso. A ideia era fazer muay-thai, mas uma versão mais soft, só pra suar, socar e chutar sacos de pancada. Só que vou te contar: academias de luta são uma seita. Entrei lá quieta na minha pra treinar e ir embora e de repente me vi cheia de colegas dizendo "vem fazer jiu-jitsu, você vai gostar". E eu, que sempre fui muito patricinha, pensei "mas é nunca, olha pra minha cara de quem vai ficar treinando com uns homens suados em cima de mim". Só que eu fui e gostei. Em pouco tempo já tinha comprado kimono, cortado as unhas bem curtinhas e tirado o piercing da orelha.
E, com altos e baixos, estou há quase seis anos no jiu-jitsu, de segunda a sábado. E mais do que endorfinas e braços definidos, foi um esporte que me deu muitas coisas: um espaço diário longe de problemas, aprender a respirar fundo quando eu to f*dida, calma pra pensar em situações estressantes, confiança no meu corpo e, mais do que tudo, confiança em mim mesma. Além, é claro, de amigos e até um namorado.
Claro, não vou mentir e dizer que não ligo pra parte estética, não seria hipócrita com você. Mas, graças ao jiu-jitsu, eu passei a entender o meu corpo também como uma ferramenta - poderosa - para conseguir realizar coisas: seja lutar, seja arrastar um móvel, seja carregar uma caixa pesada sem precisar de ajuda ou seja pegar mais peso que um cara na academia (eu sou muito competitiva com coisa besta). E aí, quando vi meu corpo fazendo várias coisas legais e potentes, parei de ver tanto defeito ou desejar ter pernas e braços mais finos - é graças a eles que eu consigo derrubar um cara de 90kg no jiu-jitsu, sabe? E isso é legal demais!
Tudo isso com uma dor no ciático aqui e ali, o cabelo que pede uma manutenção constante e eventuais sessões de quiropraxia pra por tudo de volta no lugar, mas o resto compensa.
Abri meu coração pra agora te convidar a mexer o seu corpo também, não por uma questão estética que nos pressiona todo santo dia e que pode bater quando a gente tá com a guarda baixa, mas por você mesma.
Pra essa dor constante nas costas, pro humor, pra energia, pra ter um tempo só pra você mesma ou até pra fazer novos amigos. E não precisa ir pros esportes de contato, muito menos pra musculação, que pode ser um porre (embora seja muito importante pra saúde!). Você pode experimentar vários até achar um que goste, seja hot yoga, spinning (outra seita que eu amo), corrida, caminhada, beach tênis, patins, dança, pole dance ou o que mais você quiser.
Não precisa se comprometer a ir todo santo dia e nem pensar que vai fazer aquilo pra sempre. Mas, dando o primeiro passo, os outros vão ficando mais fáceis.
Beijos endorfinados,
Gi Ferrante
Se você precisa de mais um incentivo pra começar a fazer exercício, temos aqui mais uma pessoa espalhando a palavra. Pode entrar, Maria Carol!
Quando as pessoas dizem que é uma seita, não sei se dão a ênfase correta. É realmente uma religião e esperando a aula começar no corredor você já sente a energia cósmica do pedal sendo trocada entre as pessoas que estão trocando seus tênis pelos sapatinhos adequados. Fiquei tensa, ansiosa e animada com esse clima de preparativos.
Logo antes de começar a aula, o professor muitíssimo animado (muitíssimo mesmo, sem exagero) começa a cumprimentar todo mundo, me chama pelo nome, sabe que é minha primeira vez e diz que “vamos viver uma experiência incrível juntos” e que ele está muito animado pra isso. Me senti importante e assustada: como ele sabe meu nome????
Chegando na minha bicicleta, um bilhetinho que dizia: “Carolina, bem-vinda! Sinta a batida, segure firme e aproveite a aula”. Tudo isso escrito à mão com canetinhas coloridas e enfeitado com corações e estrelinhas. Tá explicado o porquê as cancerianas amam.
Tanto o professor quanto uma outra funcionária vieram me ajudar com tanta atenção que só faltou me pegarem no colo. Muito carinho e cuidado. Já tava me sentindo muito especial e com vergonha.
Começou a aula. Que na verdade é uma balada. Que na verdade é uma rave. Que na verdade é uma sessão de terapia? O que está acontecendo aqui? Música, animação e mensagens motivacionais sobre você ser capaz de tudo nessa vida. Senta, fica de pé, flexiona, pega pesinho, dança e pedala no ritmo da música. Esse exercício não é pra iniciantes, morri umas 18 vezes ao longo da aula, sai com as pernas e braços - literalmente - tremendo.
E atenção na dica: nada é de um dia pro outro. Por mais que o professor e o clima da aula te motive a dar tu-do de si, parcimônia. Vai com calma, não se compara e cuidado para não ultrapassar seus limites e acabar se machucando, combinado? Combinado.
No fim da aula, o professor chamou um aluno que estava completando naquele momento 150 aulas realizadas. Todos bateram palmas. Ele fez um discurso sobre o tamanho do coração e da generosidade desse aluno. E eu “gente, o que está acontecendo? Isso é uma grande família?”
Na saída, o professor estava lá pra me dizer que estava feliz que eu fui, que estava orgulhoso do meu desempenho e que me espera nas próximas aulas.
É uma experiência bem única de exercício físico. Muito diferente de aulas de academia ou coisas do gênero. Apesar da vibe e indícios de seita que existem, foi muito acolhedor.
Recomendo ☺️
AGENDA BONI
Atenção, se você ama a bonibox, fique atenta no Instagram do boniclub que os spoilers estão a caminho. Vem coisa muito boa por aí.
Arte marcial é decididamente uma seita! Infelizmente não foi pra mim. Também entrei no muay thai na expectativa de algo suave para me manter ~ativa e saudável~ e terminei desistindo porque eu não tava atrás de competir e não queria correr pra graduar, e o professor ~só treinava guerreiros e campeões~. Resultado: era completamente desprezada por todo mundo que treinava ali. 😂 Gente doida.