Por Jana Rosa
Como escrever uma newsletter um dia depois do show da Dua Lipa sem falar sobre a beleza dessa garota? Ontem aconteceu em São Paulo a tão esperada apresentação da estrela do pop, que agora segue pra uma multidão ainda maior de fãs no Rock in Rio, e eu estava lá dando muitos pulinhos de emoção.
Fazia tempo que eu não era tão jovem assim, acho que até voltei a produzir colágeno do tipo I ou II — aquele dos bebês que nem me lembro mais como se explica e a gente para de produzir com o passar dos anos. A real é que o mundo pop me leva pra um lugar jovem porque vieram de lá todas as referências do que seria o meu trabalho. Essa semana gravei um episódio do nosso podcast com a Brigitte Calegari e a Angélica Silva, duas experts em make, e perguntei pra elas quais foram as suas influências pra um dia trabalhar com beleza — a resposta você vai ouvir na próxima terça, quando o episódio sair, mas a pergunta me lembrou que as minhas influências vieram quase todas da MTV.
É que, enquanto eu crescia nos anos 90 e começo dos 2000, lá em Araraquara, interior de São Paulo, poucas pessoas perto de mim gostavam do mundo da beleza, e a internet naquela época não tinha esse conteúdo todo e as mesmas facilidades, né? Na época em que eu batia papo em chats com desconhecidos que descreviam a si mesmos (lembra quando nem tinha foto nossa dentro de um computador?), o máximo que chegava até mim eram algumas revistas de moda que eu conseguia comprar na banca — isso quando sobrava o dinheiro escasso da mesada. A única perfumaria da cidade, que tinha pouquíssimas marcas e produtos, já fazia meus olhos brilharem enquanto eu implorava pra minha mãe me dar um batom que fosse. No meio das possibilidades do comércio de Araraquara, o que me restava fazer era mesmo assistir aos clipes.
Os videoclipes formaram minha personalidade apaixonada por maquiagem, porque era vendo aqueles filminhos com popstars e rockstars belíssimas que comecei a pensar pela primeira vez em como a maquiagem, os cabelos e os looks das pessoas faziam elas comunicarem suas personalidades e ficarem poderosas.
A primeira vez que percebi isso foi com a Madonna, porque sou antiga mesmo, e se não entrasse em recuperação de matemática poderia escolher um CD de presente. Lá fui eu, então, com 13 anos mergulhar em “Ray of Light”, a perfeição em forma de disco, que tinha aquela imagem da Madonna cabeluda e iogue, com a sobrancelha bem marcada e uma make clean, se sentindo gata e plena depois de se tornar mãe da Lola, que virou o nome de todas as cachorras que tive desde então, e que foi a imagem que me fez querer ter um cabelão natural — afinal, agora a Madonna também tinha um assim.
Mas depois ela apareceu de cabelo preto em “Frozen” e lá fui eu querer tingir o cabelo de preto —só que nem lembro se minha mãe deixou ou se eu só inventei no chat do UOL que tinha cabelo preto igual ao da Madonna. Não importa muito agora, afinal naquela época o pessoal do chat podia apenas imaginar como eu era darkzera de cabelo preto e isso já causava o maior impacto, assim como a beleza sempre faz.
Aprendi a usar sombra colorida depois de ver o clipe da Sophie Ellis-Bextor, que me hipnotizou em “Murder on the Dancefloor” com um olhão azul esverdeado na pista de dança, e me fez ir até a perfumaria da cidade caçar uma paletinha barata com um tom azul possível. Aos 16 anos, já me sentia a rainha do pop de Araraquara com meu olhão impactante.
Isso sem contar quando a Christina Aguilera apareceu com um cabelo loiro e pontas rosas no clipe de “Come on Over” e fui até um salão de bairro copiar na mesma hora, deu errado e o cabelo da criança ficou laranja e roxo, um horror! Chorei por semanas até passar uma tinta castanha em cima. As mães sofrem com as loucuras das filhas, né? As mães são umas santas!
Não tinha Instagram, Pinterest e mal tinha site de notícias, tinha que acompanhar as Spice Girls, a Britney, a Gwen Stefani e as Destiny's Child pra conhecer as novidades de maquiagens e strass colados no rosto. Quando a Beyoncé lançou “Crazy in Love” e e apareceu naquele clipe usando scarpin e um microshorts, meu cérebro bugou, e continua bugado até hoje depois de ouvir (todos os dias e às vezes mais de uma vez por dia) o “Renaissance”, que me faz querer viver na era disco só de ver as fotos de divulgação. Acho que quando ela lançar um clipe (ou filme) desse álbum, precisarei de férias pra repensar minha vida.
Hoje acordei me sentindo tocada por um anjo. A Dua Lipa me ensinou que nunca mais passarei uma semana sem hidratar o cabelo, porque sou cria dos anos 90, 2000 e da MTV, e a presença de uma popstar é pra mim o que uma trend do TikTok é pros jovens de hoje. Crescer sem a internet mas acompanhada de muitas divas foi tudo, mas que maravilha é ter a rede mundial de computadores hoje, pra poder ter acesso a todas as informações de beleza, conhecer milhões de referências e marcas e até poder comprar uma make criada pela presidenta do planeta, Rihanna.
beijos,
Jana Rosa
@janarosa
jana@bonitadepele.com.br