Das coisas muito legais que trabalhar com beleza me proporcionou nesses últimos anos, gravar um videocast inteiro com a diva Isabela Boscov e com a MUBI, falando sobre o filme A Substância, foi com certeza um daqueles momentos AUGE.
Volto pra essa newsletter depois de sumir por meses, mas nesse tempo fiquei pensando em como seria um formato que tenha informação de beleza e do universo da Bonita de Pele, mas que eu possa escrever pessoalmente, pra discutir assuntos que estão na minha cabeça. Acho que esse caiu como uma luva.
Antes de tudo, quero convidar vocês a virem assistir esse papo com a Isabela, jornalista e crítica de cinema (além de queen da internet), porque nele falamos sobre o gênero body horror, sobre a direção da Coralie Fargeat, sobre a Demi Moore como a protagonista Elizabeth Sparkle - e a decisão dela como atriz de fazer esse filme, principalmente depois dos últimos anos sendo massacrada pela mídia por ter feito “procedimentos que deram errado”, falamos da Margareth Qualley que é a Sue perfeita e essa atriz jovem que tem feito vários filmes interessantes, e muito mais.
Trabalhar com a MUBI nessa divulgação foi especial pra mim, porque eu tava muito ansiosa pra assistir A Substância, fui na pré estreia logo no primeiro dia, porque eu queria entender do que se tratava esse roteiro, que foi premiado no festival de Cannes. Alguns dias antes até reassisti “A morte lhe cai bem”, já que muitas pessoas falavam que “A Substância é o novo A Morte Lhe Cai Bem”. Apesar de serem dois filmes que tratam de pressão estética, padrões de beleza e envelhecimento, são muito diferentes.
A Substância também já se tornou um ícone da cultura pop, mas tem uma discussão mais profunda sobre o que é essa nossa busca por uma melhor versão, quando falamos da nossa imagem. Eu que trabalho com isso e faço muitos conteúdos sobre procedimentos, sempre deixando claro o quanto sou a favor deles pra quem quer se sentir melhor, terminei o filme me questionando o que na verdade é esse “se sentir melhor”.
O que é essa nossa melhor versão?
Sem muitos spoilers, mas ver a Elizabeth Sparkle, uma mulher de 50 anos que é linda e tem uma vida pela frente, mas que se despreza pela sua aparência, é assustador. Não tem como não pensar em outras mulheres que estão perto da gente e em nós mesmas, em todas aquelas vezes que nos odiamos e nos desprezamos por causa de uma imagem que foi criada do que é ser bonita, e que a gente sabe que não é verdade, a gente questiona, a gente trata na terapia e consegue verbalizar super bem, mas lá dentro ela ainda nos assombra e provavelmente vai assombrar pra sempre.
E é aí que o bicho pega, e pega pra mim que trabalho nesse mercado e me injeto coisinhas mil na cara, e pega pra qualquer mulher que assistir e se identificar com o quanto podemos ser cruéis com nós mesmas - e o quanto a sociedade desvaloriza uma mulher quando ela deixa de ser jovem.
Escrevo esse texto um dia depois de chegar da Coréia do Sul, uma viagem que juntou trabalho com pesquisa do que tem de novidade no mercado de beleza, e que nem consegui processar ainda. Uma das coisas que nos chamou atenção por lá é que as marcas não falam mais o termo anti-aging e sim “slow aging”, que seria um envelhecimento mais devagar da pele. E o slow aging tá por todo lado, inclusive quando falamos de bioestimuladores e ultrassons microfocados, que estimulam nosso colágeno e fazem um banco dele pro futuro, ou de quando a toxina botulínica (o botox) é usada pra ser um tratamento “preventivo”, pra que o rosto não tenha marcas de expressão.
Só que esses procedimentos já são passado do outro lado do mundo, onde as pessoas injetam células do esperma do salmão e do cordão umbilical dos bebezinhos coreanos (um jeito dramático de falar de pdrn e exossomos, mas eu juro que volto pra explicar do jeito certo o que são). Enquanto isso a ANVISA proíbe o chip da beleza e as pessoas ficam furiosas, porque elas não tão nem aí se não sabem o que tem lá dentro e quais podem ser os reais efeitos colaterais, contanto que diminua a celulite e traga muita massa magra.
Queremos ser gatas e nos cuidar ou estamos completamente loucas?
Obviamente não tenho essa resposta, e nem sou a pessoa mais indicada pra trazer um veredito final, já que meu trabalho é divulgar o que tem de novo nesse universo, que sempre vai vender a juventude e a perfeição como uma solução pra nossa felicidade.
Sugiro que a gente faça assim, todo mundo vai assistir A Substância e vamos com nosso pensamento crítico entender onde podemos chegar, qual é nosso limite, o que vai realmente nos fazer sentir bem ou chegar em uma “versão melhor”, mas sem pirar.
Será que isso é mesmo possível?
Até já já,
Oi Jana!
O que me impactou, para além do óbvio estético, foi a ausência de relações genuínas, amizades verdadeiras que pudessem nortear e dar perspetiva a essa mulher linda que realmente é linda e que está extrapolando o exagero (como escrevi aqui no Substack).
A pergunta que me fica é, quanto eu estou me submetendo à pressão estética? Como é isso para você, para além do negócio que você comanda?