Por Stella Prado e Gi Ferrante
“A roupa é um delimitador de conhecimento, é como eu olho pro outro e reconheço a sua capacidade de discutir comigo algum tema”, disse meu amigo viciado em tiktok, que “leu em um artigo” nessa rede de vídeos algo sobre isso e trouxe em uma das nossas conversas a respeito da crise estética dos millennials 30+.
Ele acha que nós buscamos manter a jovialidade, primeiro com skincare, depois com procedimentos, com a alimentação e por fim com o estilo (não necessariamente nessa ordem). Alguns de nós gostam de boné com estampa divertida, sandálias de plástico com salto, mini bolsas que só cabem o rg e um cigarro avulso, enquanto alguns outros já deram muitos passos importantes em direção a vida adulta e optaram por roupas estruturadas, tecidos de qualidade superior e bolsas de mão que vão durar muito.
Comprar uma casa ou trocar de bicicleta? Assumir seus b.o sozinha ou compartilhar com a pessoa amada? Investir em criptomoeda ou pagar uma rodada de espetinho para seus amigos com a grana do frila? A nossa geração (ou eu e meus amigos?) tá completamente maluquinha sem saber o que fazer da vida, porque a gente pode fazer tudo e, se isso reflete nas “decisões mais importantes da nossa vida”, como ela não iria interferir na segunda decisão mais importante da nossa vida que é “que roupa usar hoje a noite?”.
Bem, voltando pro meu drama.
A angústia que compartilho aqui hoje é que, no momento, eu não consigo deixar nítido para as pessoas qual é o “meu tema” e sobre o que eu quero falar. Eu ainda não sei se consigo passar o recado para os outros, com meu jeito de me vestir de que eu sou alto astral, muito responsável e me sinto confortável com as minhas escolhas. Tudo parece inadequado demais, me deixa desconfortável demais e fazem eu me perguntar diariamente toda vez que abro o armário “quem sou eu na moda?”. No jeito de me vestir eu já não sou mais Punky Brewster, mas também ainda não me sinto a Kate Middleton.
Existe um meio do caminho? Como eu alcanço o equilíbrio?
Eu tô sempre de camiseta e calça jeans. Só uso peças brancas, pretas e azuis. “Esse é meu estilo e que se foda” disse o Febem, naquela música. Na verdade, tudo que eu precisava nesse momento era que um amigo ou amiga, na maior boa vontade, me inscrevesse no Esquadrão da Moda. Seria lindo acordar um dia e ter o Arlindo e a Isabella na minha casa jogando todas as minhas roupas fora e me dando um banho de loja. Mas assim, uma revolução daquelas que as pessoas vão apontar uma câmera pra mim na rua e falar “posso tirar uma foto? é pro meu blog de moda”, igual nos anos 2000.
Gi aqui, chegando para contar que eu também tô perdidinha no estilo e nem é porque não sei como quero me vestir, eu meio que sei, mas quando me visto fico pensando que ainda não sou essa pessoa que eu queria ser. Faz sentido?
Eu sou uma soft-perua, já aceitei, meu negócio é um paetêzinho aqui, uma pluma ali, um salto meio imprático acolá. Misturando tudo isso com uma calça jeans, uma camiseta branca, um all-star que nunca foi lavado. Já me acostumei a receber mensagens das minhas amigas "olha, a gente tá bem básica mesmo tá, não se empolga" quando vou sair com elas. E espero que elas tenham se acostumado comigo respondendo "tá bem, até já" e aparecendo meio arrumada demais mesmo assim.
Mas escrevendo aqui eu percebi qual é a crise.
A crise é que eu ainda não sustento encarar um ônibus logo cedo a bordo de uma saia rosa de paetê. As poucas vezes que fui de bota branca de cowboy pegar o terminal pinheiros, foram tantos olhares que eu me senti toda errada.
Mas lendo isso eu mesma penso eu hein deixar de usar um paetê logo de manhã porque a galera do ônibus vai julgar? Ou, pior ainda, alguém se importa? Porque honestamente, tá todo mundo tão concentrado no próprio umbigo que ninguém vai nem pensar nisso por mais de 20 segundos.
Esse final de semana terminei de ler o livro da Joanna Moura, "E se eu parasse de comprar?" e entre muitos outros assuntos relevantes desse livro – que eu amei e me identifiquei em muitos aspectos, mas isso é papo pra outra newsletter – um que me ecoava na cabeça era: a gatinha é segura, né? Encara o ônibus lotado vestida de Carrie Bradshaw.
Enquanto isso, depois de gastar mais dinheiro do que eu deveria na Zara, fazer alguma compras nada a ver achando que tal peça ia resolver tudo, fazer exercícios tipo "pense nas três palavras que definem o seu estilo" e escolher o meu uniforme de todos os dias (shorts preto, camisa longa e botinha), eu resolvi, escrevendo essa newsletter e assistindo novamente sex and the city, dar uma chance pra perua que existe em mim ser mais livre durante a semana e não só de sábado e domingo. Hoje, enquanto você lê isso, tô de camiseta puída e shorts jeans trabalhando de casa, mas amanhã o pessoal do terminal pinheiros vai me ver de paête indo trabalhar.
AGENDA BONI
Chegou mais uma edição da bonidrops, a nossa caixa mega limitada e que vem recheada de produtos e com o roupão Bonita de Pele para deixar o seu momento de skincare completo. Desta vez, são três versões para você escolher a sua vibe: um spa completo em casa, uma rotina de cuidados da cabeça aos pés ou o seu verão de volta.
Obrigada pelo texto , também estou neste rolê , perdida na identidade. É uma coisa tão estranha que é difícil verbalizar. Obrigada!
Tbm terminei recentemente o livro da Jô! Adorei e me identifiquei muitooo hahahah