Por: Jana Rosa
O Zeca sempre foi especial, mas nem sei se posso falar isso, porque todos os cachorros são especiais e lindos demais. É que ele sempre foi um pouco acima da média, porque além da beleza canina, tem uma personalidade engraçada e causa emoção nas pessoas que encontram ele pela rua. Se você estiver andando e encontrar com ele passeando pelo bairro, provavelmente vai dar um gritinho de LINDOOOOOO.
Só que uma das características do Zeca é que ele nunca gostou de seres humanos, ele sempre foi um hater de humanos, muito nervosinho e simplesmente pokas, pokíssimas. Nem eu, que era a dona dele, era muito autorizada a falar com o ícone. Só nos horários permitidos, e olhe lá.
Há muitos anos ele vive com a minha mãe, que é a verdadeira dona dele, ou como a própria se intitula, a vovó. E o Zeca só gostava da vovó e de mais ninguém. Eu, a ex-dona desse cão dificílimo, levei uma mordida na mão no ano passado em um momento de audácia, quando tentei agradar este senhor sem ser solicitada.
Faz uns dias que nos encontramos depois de muitos meses de saudades, e descobri que Zeca é um homem completamente mudado. A beleza continua, as patinhas rebaixadas e tortas estilo bailarina também, assim como o rabinho enrolado igual ao de um porquinho e os olhinhos de pirata — mas Zeca agora é um homem calmo, amoroso e paciente. Depois de quase 10 anos, ele finalmente virou meu amigão. E virou amigão de outras pessoas também: Zeca agora convive com mais humanos além da vovó, sem precisar morder e sem odiar todo mundo que faz qualquer barulhinho perto dele.
Minha mãe me perguntou: "Viu como o Zeca está mudado?". E quando comentei chocada que ele está TRANQUILO, questionando se a maturidade mudou esse homem, fiquei sabendo que o que mudou a vida dele foi o exercício físico.
Sim, Zeca é a musa fitness que nós sempre sonhamos, mas nem sabíamos que existia. Ele é low profile, ele tem um corpo real (fotos anexas) e ele é um exemplo de que o exercício muda tudo, até a nossa personalidade e saúde mental — e não tem nada a ver com ter um corpo perfeito, trincado, mas se você quiser vários músculos também dá pra ter, e tá tudo certo.
O exercício muda a nossa cabeça. Esse foi o maior presente que ganhei na minha nova vida sem álcool, porque pra segurar essa barra de encontrar o high e o brilho no olhar sem os drinks, comecei a buscar a tal de endorfina de que tanto ouvia falar. E, bom, ela realmente funciona.
Percebo que as pessoas ficam meio chocadas quando começo a falar o quanto o exercício mudou a minha vida e me trouxe equilíbrio, porque acho que não sou a pessoa fitness que se espera encontrar. Sou como o Zeca, low profile, sem gomos na barriga e um pouco agressiva com humanos, mas completamente controlada graças ao Muay Thai antes do trabalho e ao spinning, mas essa parte é polêmica e falamos outra hora.
A verdade é que o exercício físico não se parece em nada com o que aquela gente das redes sociais nos fez acreditar — e nos fez ter pavor de pisar numa academia durante anos. Até porque o exercício não precisa ser feito só na academia, tem muitas formas de você suar e provar desse santo remedinho. O Zeca, por exemplo, faz caminhadas diárias de 50 minutos com a vovó, ele nunca pisou em uma academia.
Depois dessa linda história de superação e mudança de hábitos, aprendemos com Zeca que o exercício físico pode mesmo transformar nossa vida pra melhor, e até nos fazer conviver em harmonia com outros humanos, sem morder ninguém. Pelo menos até as eleições começarem.
beijos,
Jana Rosa
@janarosa
jana@bonitadepele.com.br
Essa história do Zeca me deu tantos gatilhos que preciso escrever: Até 2019 eu era muito ativa, estudava em 3 turnos (sim, meu povo, eu tinha aula do Doutorado manhã, tarde & noite), organizava e participava de eventos, fazia n reuniões por semana, gravava vídeos para as redes sociais, produzia conteúdo. Meu apelido na universidade era "bom bril", porque eu tinha 1001 utilidades. Estava, literalmente, envolvida com todos os projetos possíveis. Quando a pandemia começou, o "Zeca" que habita em mim se viu sem propósito. E para piorar, eu tive o azar de mesmo trancada em casa desde o dia 16 de março de 2020, pegar covid em maio (como? de quem? nunca saberemos, mas peguei). Apesar de um caso leve, diagnosticado somente 3 meses depois por causa das sequelas, eu virei uma "Zeca" irritada, sequelada por uma doença que eu nem sabia que havia tido... e acima de tudo triste! Porque já não bastava não ter mais as atividades que me endorfinavam, eu estava cheia de sequelas físicas, dores e febres repentinas que, pasmém, eu ainda sinto hoje, 2 anos depois. Mas por que estou dizendo tudo isso? Porque ler a história do ex-ranzinza Zeca, me fez pensar em como "ficar parado", inertes, pode nos zangar sem razão aparente. Obrigada, Jana, por compartilhar a história do Zeca. Ela me fez pensar tanto sobre "a Zeca ranzinza" que tenho mantido dentro de mim... Que venham os tempos de "Zeca simpática" por aqui também. Beijos, @thaisarievilo