Por: Jana Rosa
Toda vez que eu falo a palavra SPINNING, percebo que as pessoas ao meu lado se arrepiam de horror. Tá pra nascer algo mais odiado do que esse pobre exercício físico que acontece em uma sala cheia de bicicletas ergométricas, com música alta e professores gritando no microfone.
Bem, fica difícil de defender logo depois dessa última frase, mas prometo tentar.
Eu também odiava spinning, sem nunca ter ido em uma aula sequer — só de pensar em gente pedalando em ergométricas e animação e positividade no mesmo cenário, já me dava ódio. Fora que imaginava que tinha que ter muito preparo físico pra encarar uma aula assim, então eu nem tentava.
Mas tudo mudou quando virei fitness em 2020, e não tinha nada pra fazer, só exercício mesmo, já que a gente nem tinha vida social naquele ano. Foi a Marcela Ceribelli (ela, de novo!), que me chamou pra uma aula de bike quando as coisas começaram a flexibilizar e as academias voltaram a funcionar com as pessoas meio distantes e de máscara. Confesso que eu só queria mesmo era fazer qualquer coisa que tivesse seres humanos depois de tantos meses — aliás, esse foi o primeiro dia em que eu vi a Marcela ao vivo em muito tempo.
Aqui preciso fazer uma pausa pra dizer que a Marcela e a Lais sempre vão aparecer nas minhas newsletters, porque elas são minhas amigas que mais levam a sério uma rotina toda organizada e com exercícios, e sempre me influenciaram muito. Minha dica pra você que quer fazer um spinning, ou qualquer coisa pra se mexer, é pensar em quem da sua turma é essa pessoa e colar nela, porque nessa hora ter uma amiga animada pra ir com você numa academia cafona muda tudo.
Sim, spinning é cafona demais! Nessa minha primeira interação eu fiquei horrorizada, é claro. Aquela gente pedalando loucamente, aquela música brega estilo David Guetta, a professora com um microfoninho berrando frases de autoajuda: é a visão do inferno. Mas, naquele momento, eu sentia tanta saudade de me conectar com seres humanos e estar dentro de uma balada — que eu achava que nunca mais ia existir porque sou a pessoa mais pessimista do mundo — que fiquei encantada com a sensação de estar suada em um lugar escuro, com luzes piscando, música duvidosa e pessoas com cheiros estranhos. Como são 95% das festas que frequentamos.
Demorei pra engajar no spinning, aquela lembrança de balada das bikes até ficou em mim, mas a pandemia piorou e não tive mais coragem de ir. Foi só depois de me vacinar que me conectei de novo com essa seita.
Assim como skincare e wellness, spinning também é uma seita, e pude conhecer mais sobre ela na maior seita fitness que já participei, chamada Soul Cycle. A rede americana de spinning tem uma verdadeira comunidade de pessoas apaixonadas pelas suas bicicletas estáticas, seus looks de academia com logos da empresa e aulas com professores que, não só passam mensagem de autoajuda, como reúnem os alunos em círculo no final pra fazer um ritual de energia e gritos de guerra.
Você deve estar em choque, eu também fiquei. Mas aí já não tinha mais volta, estava viciada nessas aulas horríveis que me faziam me sentir ótima e endorfinada no final.
Confesso que a música trash não me incomoda tanto, porque o segredo do spinning é encontrar um instrutor(a) que tenha um gosto musical parecido com o seu. O drama é que isso leva tempo, e até lá você vai ter que ouvir as piores playlists do mundo (mesmo). Tá pra nascer um gosto musical mais duvidoso do que o do pessoal do spinning.
A parte da autoajuda também não me incomoda, porque tenho um poder canceriano dentro de mim que me faz sentir empatia por qualquer pessoa, então quando começa aquele papo de "Você não está aqui à toa, você veio vencer suas barreiras, que barreira você quer vencer hoje? Você é mais forte hoje do que ontem!", eu morro de dar risada e me divirto. Com todo respeito ao pessoal da autoajuda, tenho até amigos que são.
Sobre o preparo físico, sinceramente, você se acostuma. E hoje percebo que o spinning nem é pesado pra mim, é mais um exercício que faço pra não pensar em nada, ou pra pensar em tudo, porque fico lá, 45 minutos pedalando com a cabeça cheia de problemas e movimentos repetitivos, ou 45 minutos curtindo o momento e sentindo o high do exercício.
Sabe o que aconteceu? O feitiço virou contra os feiticeiros. Agora inventei que minha festa de aniversário vai ser numa sala de spinning enquanto discoteco pros meus amigos — os maiores haters de spinning que conheço — e todos já estão nervosos, com medo de não estarem na lista VIP desse evento icônico.
O spinning é tipo a bota branca, é cafona mas a gente ama. E faz super bem, porque você faz um exercício, fica suadona e se lembra de um hit do CD Turbo Mix da Pan 97 que estava esquecido no seu cérebro. Sem contar que você ainda pode sair de lá com uma puta mensagem de autoajuda que precisava ouvir, afinal você vai vencer sim suas barreiras e hoje você é mais forte que ontem, acredita garota!
beijos,
Jana Rosa
@janarosa
jana@bonitadepele.com.br
Quero a playlist -Fuck the Djs: spinning version- por favooor 😂
gente, meu spinning é o muay thai. Faz um mês e meio que voltei a praticar, depois de 5 meses parada completamente por conta de uma hérnia de disco (no auge dos meus 22 anos). Eu, que sempre odiei exercícios, academia e gente fitness, tô pregando a religião do muay thai como uma seita milagrosa. Eu amo, me sinto forte, endorfinadíssima pronta pra derrotar o mundo e ainda por cima fiz muitos amigos novos. E lá temos uma playlist colaborativa, então a cada momento é uma música nova e ainda dá pra fazer amigos baseado em seus gostos musicais.