Como é trabalhar passando creme?
"O que é que você faz, menina? Passa creme o dia inteiro?"
Por: Aline Gomes
Esse foi o questionamento que saiu da boca do meu porteiro, quando ofereci uma caixa de protetor solar e tentei explicar o meu trabalho.
Eu sempre curti o universo da beleza e tive experiências pessoais atravessadas por ele. Por ter a pele parda, era dificílimo achar uma base que dava match com meu rosto e precisava misturar duas ou três, o que me deixava indignada com o mercado nacional. Então, logo comecei a buscar produtos de fora em blogs gringos e testar tudo o que eu conseguia comprar com o salário do meu primeiro emprego: operadora de telemarketing. Alô, senhora?
Mas, bem antes disso, eu passava cremes no corpo porque, se o meu joelho estivesse cinza, era bronca na certa! Também usava uns produtos escondidos da minha mãe e assinava meu nome nas revistinhas da Avon.
*Corte seco*
Antes de chegar na Bonita, assim como muitos trabalhadores da beleza, eu vim da moda, aquele lugar meio tóxico (ok, algumas coisas mudaram). Quando fui pisar no escritório pela primeira vez, bateu um pânico, até porque eu trabalharia em uma redação de beleza!!! A síndrome da impostora veio com tudo. Eu não era boa o suficiente, estava com a sobrancelha feia, meu cabelo estava naquela fase estranha do crescimento e uma espinha enorme tinha nascido no meio da minha testa. Chegando lá, a Jana tava fantasiada de Xuxa com uma botona branca e um microfone em mãos, o Kaiqui com uma toalha na cabeça, a Vanessa com o beijinho da Xuxa na palma da mão, a Gi com microshort e botona bem paquita… Era o aniversário de 5 anos da Bonita de Pele e o tema era a Rainha dos Baixinhos. Foi aí que eu pensei: meu Deus, as pessoas aqui são muito maluquetes, gostei!
Um ano depois, cá estou eu divagando sobre o que eu achava que era trabalhar com beleza.
E, assim como o meu porteiro, e uma boni que fui e sou, também achava que a galera da beleza ficava o dia INTEIRO testando produtos, passando creminho, perfuminho e tirando selfies bem gatas garotas. Mas sinto informá-la que não é assim. A gente corre muito, produz bastante e se ajuda também, porque é assim que tem que ser, né? O trabalho também precisa ser um local de acolhimento, ainda mais em uma área onde tudo é tão volátil. Hoje é o blush Jelly da Milk, amanhã pode ser qualquer outra coisa e a gente precisa acompanhar, antecipar e comunicar. Até porque, na internet, 24 horas são como 85 anos. E, apesar de muitas vezes a gente se cansar de tanta trend, é muito legal criar um espaço que dê voz para todos. Até pra Hailey Bieber.
Depois de um ano nesse corre, aprendi que ser curiosa, fuçar as coisas online, mas também dar um rolê por aí, ver o que as pessoas estão de fato usando nas ruas, mandar mensagem pra chefona e pra chefinha, largar mão do ego do redator, porque sim, elas vão mexer no seu texto, vão falar pra fazer de novo e de novo, até você mesma ter orgulho do que tá criando… tudo isso é tão delicioso e inspirador quanto regrado. Moleza? Só nas fórmulas cremosas, minhas amigas.
De fato, meu trabalho envolve passar creme, mas o cotidiano é sobre antecipar conteúdos sobre tendências de beleza, desvendar a rotina de geral, estar ligada em todos os lançamentos, testar muitos produtos, questionar muitos outros, entender que o consumismo desenfreado não vai fazer ninguém se sentir mais bonita, pensar mil vezes se aquele conteúdo faz sentido, ouvir muito, checar com dermatologistas se aquele procedimento é ok mesmo e investigar tudo o que acontece no mercado da beleza.
Amei o texto! 💖
A pergunta que fica é: como faz para se tornar redator da Bonita de Pele?
Bjs.