Por: Gi Ferrante
A gente mal tinha respondido as mensagens de Feliz Ano Novo e o nosso radar 2024 já estava apitando: a clean girl acabou, é hora de voltar pro olho esfumado, lápis preto e cabelo bagunçado. Enquanto isso, eu, Giovanna, estava enfiada numa loja de câmeras antigas em busca de filmes vencidos e, você adivinhou, uma CyberShot, influenciada, você adivinhou de novo, pela Gen Z do TikTok.
Desde então, Strokes voltou a tocar no nosso Spotify e falamos de Indie Sleaze, Mob Wife, Kylie Jenner de peruca rosa e outras tendências que remetem aos anos 2010, tudo com aquela cara meio Tumblr e dos filtros antigos do Instagram de quem quer ser meio vampira e meio it girl.
Claro, nada dura pra sempre na moda e tudo que vai, volta, às vezes com um novo nome meio absurdo, outra vezes igual sem tirar nem pôr. E aí quem já viu aquela tendência nascer, crescer e morrer no passado, pode ficar meio sem rumo e se perguntando se é mesmo. Volto a ser meio indie ou é melhor deixar pra quem não viveu tudo isso aproveitar dessa vez, e garantir as fotos com poucos pixels e muito flash na cara? Por aqui, somos da opinião de que você deveria fazer o que quiser – até continuar sendo clean girl, se esse for o seu rolê –, mesmo que as jovens deem aquela revirada de olho.
2014 parece que foi ontem e parece outra vida ao mesmo tempo. Em 10 anos, nossas roupas, cabelos, celulares e hábitos mudaram, o mundo mudou, a economia mudou e passamos até por uma pandemia, que mesmo algum tempo depois ainda deixa aquela sensação de "o que aconteceu nesse tempo?" e "como assim já estamos em 2024? 2019 foi ontem!".
Talvez essa volta ao passado não tão distante seja até uma consequência disso, já que quem é mais novo passou anos importantes de auto descoberta e desenvolvimento dentro de casa, tendo contato com os amigos por telas e sem se reunir e sair pra encontros sociais e festas.
Também pode ser uma resposta a essa imagem da Clean Girl, que vive para o bem-estar, não tem derrapadas e momentos ruins e tá sempre com o cabelo e a vida inteira no lugar. O que a gente sabe que não é bem por aí.
Lá em 2014, algumas de nós estavam saindo, postando horrores no Facebook, usando filtro Valencia no Instagram, passando horas e horas no Tumblr pra encontrar frases profundas, indiretas e fotos de garotas muito cool. Outras, provavelmente, estavam rejeitando essa estética e pensando "que baboseira".
É fácil olhar e lembrar da parte boa, de ter curtido, vivido horrores, mas tem também toda a parte ruim que a gente já sabe: glamourização de álcool e drogas e o incentivo a transtornos alimentares e de imagem – esses últimos, inclusive, voltaram a dar caras nas passarelas de semanas de moda e no dia a dia.
Claro, mais velhas e mais sabidas (ou mais novas, mas com bons exemplos), dá pra curtir a nostalgia evitando os mesmos males. Afinal, um pouco de diversão e de lápis de olho borrado não fazem mal a ninguém.
A minha nostalgia é que em 2014 eu estava me tornando mãe. Em 2024, meu filho completa uma década de vida e eu não tenho mais um neném em casa. Hahahaha
Acho que muito dessa nostalgia doida em tudo vem de uma dificuldade coletiva em imaginar o futuro.
Se alguém me pede pra pensar em como vai ser a vida em 2034, por exemplo, não consigo pensar em nada. Vem uma imagem de neblina, incerteza e só. Doideira isso